ONDE CONTRASTE… É APENAS EUFEMISMO!
Decorreram menos de 24 horas e começa a nascer em mim uma profunda noção do local onde estou. É uma terra com uma luz própria, e, não me refiro apenas à sua luminosidade… refiro-me a uma luz que lhe brota pelos poros… uma luz que nos é transmitida pela sua energia, pelo seu vigor!
(É um vigor natural, que o Homem, de forma também natural, transmite através da sua obra…)
Vagueando pelas ruas se vê a pujança de uma economia pulsante, que cresce de forma desmesurada, deixando atrás de si um rasto de poeira, típico de um enorme estaleiro… que o é esta cidade!
Mas a marca mais profunda vem das disparidades que se observam… aqui nada tem o meio-termo. De forma alguma podemos falar em termos médios!
Aqui, falar em CONTRASTE… é apenas EUFEMISMO!!!
Percorro as ruas desta cidade e em cada esquina vejo amontoados de objectos, que outrora, tiveram vida nas mãos de alguém… mas que hoje são apenas amontoados de lixo. Ao lado vejo 40 000 dólares sobre 4 rodas, suavemente pousadas, paredes meias, com a chapa entortecida de mais uma torre futurista em plena construção… somente mais uns milhões investidos, mesmo em frente da barraca construída com chapas que antes envolveram uma torre já acabada e, onde vive, um dos verdadeiros responsáveis pela alma desta cidade.
Aqui falar em CONTRASTE… é apenas EUFEMISMO!!!
A sul deparo-me com uma nova cidade… as casas, (sim casas!), são uniformes… valem todas entre 5 ou 15 ou 20 ou 25 milhões de dólares! Estão rodeadas de vedações e têm segurança à porta… têm espaços relativamente ajardinados nas ruas… e têm vista para mais 5 ou 15 ou 20 ou 25 mil… barracas… com lama à porta, onde jazem mais umas centenas de milhar de objectos inanimados!
Aqui falar em CONTRASTE… é apenas EUFEMISMO!!!
Nesta cidade só não se vê este gigante abismo, quando comparamos o brilho cintilante das portentosas torres edificadas no centro e a sul, com o brilho apaixonante do sorriso puro e desprendido, daqueles que vagueiam entre destinos que apenas os próprios conhecem, por entre o pó e a lama do lado norte!
É este último brilho que levarei na minha retina… desta minha curta estadia em LUANDA! É essa a verdadeira alma desta terra… a paixão pela vida!
Um texto brlhante, fruto de uma capacidade de observação que pede meças à qualidade literária!
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