quarta-feira, 7 de abril de 2010



São ferros que rasgam sem sentido, por entre a carne que me tece...

vejo-me, assim, rodeado por uma nuvem negra que me consome por dentro!

no meio desse turbilhão, Luto!

Luto para das minhas mãos fazer asas... tentando voar para longe...

Luto para que as minhas entranhas se tornem armaduras... tentando resistir à tempestade que ela me causa...

Luto para no meu Ser encontrar forças para a contrariar...


Luto! Luto!


no entanto, ... , o resultado é sempre o mesmo!




O vazio da mais perene escuridão!



Ao longo da minha formação e da minha curta experiência de prática clínica, deparei-me com os sentimentos e perspectivas de terceiros que, de forma directa ou indirecta, me tentavam comunicar o seu interior... na esperança de se encontrarem a si próprios.


Será assim que se sentem? Será esta a visão de quem passou os umbrais da tristeza?
Será possível viver nesta escuridão? Dia após dia... dia após... dia... dia... após... dia...


Sempre vi e entendi bem os seus mecanismos, procurando comunicar-lhes a minha compreensão.


Hoje, vejo que apenas me foi possível observá-los e tomar consciência das diferentes e inúmeras interacções que os mantêm nesse mundo pessoal e intransmissível!

Curioso o facto de, por simples influencia de um fármaco, ter nascido em mim este minúsculo ensaio... que me faz pensar sobre como e de que forma poderemos tentar compreender o outro (?), quando este vive uma realidade que é apenas sua...




Deixo-vos a questão...

2 comentários:

  1. Gostei.
    Pressinto aqui a semente de algo novo...
    Não te respondo para já, mas sei que a Força está contigo.
    Um abraço do teu tio Rui.

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  2. Vou partilhar contigo a minha reflexão pessoal.

    Como e de que forma poderemos tentar compreender o outro (?), quando este vive uma realidade que é apenas sua... Eu digo-te que será difícil transcrever para palavras a vivência da intervenção do psicólogo no seu todo. Certamente que, como profere Fernando Pessoa “existem coisas inexplicáveis”, seguramente intransferíveis, como o emocionalmente sentido e vivido na dinâmica relacional estabelecida com a pessoa que está connosco.
    Devemos tentar criar um processo empático. No entanto, este pode não implicar a vivência da realidade do outro. Pois, ela será sempre única e idiossincrática. A busca por algo tão utópico como a essência do outro pode minar o teu desempenho enquanto profissional das relações. Temos sim que estar conscientes e usufruir do envolvimento pessoal, da maturidade emergida pela experienciação de muitas vidas! E de como somos grandiosamente afectados por elas. Na verdade, também nos aperfeiçoamos com as histórias dos nossos clientes e também nos abalamos com as memórias que se tornam permanentes e partes de nós para o resto das nossas vidas. Alguém que nos toca profundamente, pelo melhor ou pelo pior, nunca nos deixa completamente. Levamos esse alguém no nosso coração e ele leva-nos no seu. No entanto, para suportar os testemunhos das narrativas humanas é fundamental que as nossas meias protectoras (decorrentes da criação do processo empático) se tornem mais fortes e resistentes, de modo a não interferirem na qualidade dos momentos de comunicação. O desejo de ajudar as pessoas a mudar, desenvolver uma compreensão profunda acerca da natureza humana e experienciar intimidade e envolvimento recíproco são objectivos e propósitos centrais difíceis de alcançar.
    Assim, mais do que compreender uma realidade que é apenas sua, encontrar a sua satisfação e auto-realização é, por si só, razão de contentamento. Pessoalmente, servir este propósito constitui-se como uma das mais valiosas recompensas dos meus embrionários momentos enquanto psicóloga.

    "Momentos"

    O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem, momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

    Fernando Pessoa

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